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Governo Lula deveria apoiar ocupação do Alemão, defende ex-capitão do Bope.

O Rio de Janeiro enfrenta uma situação de guerra civil, marcada por domínio territorial de facções e incapacidade do Estado em controlar o avanço do crime, afirma Rodrigo Pimentel, ex-capitão do Bope e um dos idealizadores do filme “Tropa de Elite”, no UOL News, do Canal UOL.

Pimentel destaca que operações policiais recentes, mesmo com excessos, refletem um contexto onde o morador é a principal vítima, refém de criminosos como Doca, que impõem terror e dificultam o acesso a direitos básicos. Para ele, o governo Lula deveria tomar ações no Rio de Janeiro.

“Não ocupar o complexo do Alemão hoje com uma força policial ou então uma força militar é um grande equívoco. Existe uma ideia de reviver uma UPP, a UPP falhou em função de várias questões, muitas variáveis. Mas hoje, já que você está lá no Alemão, que você retirou 75 fuzis, prendeu 80 bandidos, seria o momento oportuno para o governo federal apoiar um processo de ocupação territorial efetivo.”

“Quando, no governo Dilma, o Exército brasileiro ocupou o Alemão por 19 meses, nós ficamos 19 meses sem nenhum homicídio no Complexo do Alemão. Não é possível que alguém ache isso ruim. Você reduzir a zero o número de homicídios naquela localidade, não é possível que alguém discorde disso. Então, quem sabe uma boa colaboração do governo federal hoje, com a cessão de efetivos, de preocupação do Complexo do Alemão.”

Pimentel compara a situação com guerra civil, e enumera as características que indicariam isso.

“É importante entender que a gente vive no Rio de Janeiro um cenário que não é de bandido e polícia. O que acontece no Rio de Janeiro a gente chama de conflito armado não internacional. Ele tem longa duração, ele tem ocupação territorial permanente pela facção, ele tem capacidade de combate intensa e ele afronta o governo estadual. Isso no mundo todo não é situação de banditismo, isso no mundo todo é guerra civil. No Brasil, a gente trata como situação de banditismo e se for consenso da sociedade continuar tratando assim, a gente aplaude, porque é isso mesmo, a sociedade fez a opção. Mas o que acontece no Rio de Janeiro é muito similar ao que acontece em Burkina Faso, na Nigéria, o que aconteceu em Alepo, na Síria. E, verdadeiramente, as forças estaduais perderam a capacidade de sobrepujar essas facções.

Pimentel também aponta que o Estado não tem mais força para retomar territórios controlados por facções.

Se nós pensássemos em uma lógica de infantaria, de guerra, quando uma posição é ocupada em guerra, você utiliza quatro homens a mais do que a força opositora. Então, a infantaria avança sempre com vantagem de quatro vezes. Então, para tomar o Alemão, na tentativa de prender o Doca, a polícia deveria dispor de, no mínimo, três, quatro mil, cinco mil homens. E o Estado perdeu a capacidade, ele não consegue mobilizar isso. É o cenário do Rio de Janeiro.

Sobre a letalidade e denúncias de abusos em operações, o ex-capitão do Bope admite a possibilidade de excessos, mas reforça que o contexto é de guerra civil e que o sofrimento maior recai sobre quem vive sob domínio das facções.

É provável que ocorreram ali excessos e até crimes. Eu seria imbecil de falar que essa possibilidade não tenha ocorrido. No entanto, é bom lembrar que, no mundo todo, não seria uma situação de polícia e bandido, seria uma operação de guerra civil.

Eu tenho absoluta certeza que essas operações são traumáticas, são horríveis. O morador sofre muito. Mas pior que a operação policial é você ser refém de uma facção e o governo federal não reconhecer isso e a imprensa fingir que isso não existe. Porque durante anos, anos e anos, ninguém falou sobre o fenômeno das barricadas no Brasil.

Fonte: UOL

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