...

Universidade cede patente e curativo de pele de tilápia chegará a hospitais

O curativo biológico feito com pele de tilápia criado na UFC (Universidade Federal do Ceará) vai ganhar produção industrial e, assim, conseguirá chegar a hospitais de todo o país. A patente será cedida depois de dez anos de pesquisas e adoção do material com sucesso na recuperação de pessoas queimadas.

O uso da pele de tilápia na saúde é fruto de uma pesquisa iniciada em 2015 pelo Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da UFC (Universidade Federal do Ceará). Na semana passada, a instituição assinou um acordo para licenciamento da tecnologia.

A vencedora da oferta pública foi a farmacêutica Biotec, que tem 32 anos de atuação e está sediada em São José dos Campos (SP). A empresa anunciou que vai construir uma fábrica específica para produção do curativo.

Hoje, a pele é usada em projetos pontuais dentro e fora do Brasil, mas não há produção em larga escala capaz de abastecer hospitais pelo país. “Trata-se de um produto que foi desenvolvido no ambiente acadêmico, que se não fosse transferida a patente para o setor produtivo, morreria dentro do setor público, porque a universidade não tem como missão produzir industrialmente”, diz Carlos Paier, do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da UFC.

Além de queimaduras, o produto é usado para outros tipos de problemas, como reconstrução vaginal de mulheres que passam por radioterapia.

“Esse é um conhecimento aplicado que a gente desenvolve dentro da universidade e que pode melhorar a vida das pessoas, mas também gerando empregos, gerando arrecadação de impostos. A transferência de uma patente de uma universidade pública para iniciativa privada é uma coisa muito rara. Não é tradição do Brasil, muito menos do Nordeste.” Carlos Paier

Investimento

A fábrica receberá um investimento de R$ 48 milhões (R$ 44 milhões na planta e R$ 4 milhões para operacionalização), segundo Luciano Foianesi, sócio-fundador diretor da Biotec.

Segundo ele, a Biotec apoia a pesquisa desde 2018 e sempre acreditou que a tecnologia era um passo importante para o tratamento de feridas geradas pelo fogo.

“Um queimado usa muita morfina –e muitas vezes acaba ficando dependente. Com a pele de tilápia, em 48 horas o paciente não tem mais dor –essa é a revolução. E ela adere ao corpo e praticamente se funde ao adquirir todas caraterísticas da pessoa que recebe.” Luciano Foianesi

Para ceder o uso, a UFC e os inventores vão receber R$ 850 mil. A universidade ainda vai receber royalties de 3,7% sobre o lucro líquido da fábrica, além da possibilidade de mais 0,5% do faturamento de reinvestimento em pesquisa.

O próximo passo da Biotec é decidir onde a fábrica será instalada. Apesar da pesquisa nascer no Ceará, Luciano explica que a escolha pode ser outro local. “São Paulo é o estado onde estão os maiores produtores de tilápia do país. Isso facilitaria a logística, e a pele também é esterilizada aqui”, diz.

A empresa vai produzir o curativo biológico para uso humano e veterinário. O produto poderá ser usado em pacientes com queimaduras profundas de até 2º grau. “Ele explica que a empresa apoia a tecnologia na UFC desde 2018, e hoje a técnica já é conhecida por países como China e EUA.

O produto será usado apenas em hospitais e será exportado para empresas interessadas, diz Foianesi. “Nosso maior cliente no Brasil será o SUS. Nós temos no Brasil um milhão de queimados por ano. Uma vantagem do uso da pele é que o paciente não precisa voltar mais de uma vez ao centro cirúrgico. Nos tratamentos convencionais, ele vai mais vezes, e isso acarreta uma redução de custos de pelo menos 50%”, conta.

A expectativa é que a fábrica produza um milhão de peles de tilápia no primeiro ano, com perspectiva de chegar a 30 milhões em três anos de operação. “Cada queimado usa, em média, 22 peles de tilápia. Ou seja, só para a demanda nacional precisamos de 22 milhões. É uma demanda muito alta”.

A empresa calcula que a fábrica entre em operação até o final de 2027, após finalizar a planta e conseguir as licenças necessárias. “Inicialmente o processo será manual, mas depois passará a ser automatizado para dar conta do volume”.

Fonte: UOL

Imagem: UFC

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Newsletter